Castelinho Roxo

Com 18 anos eu queria me suicidar, me sentia apática, não via motivo de me manter viva e nem futuro para mim. Não conseguia me sentir feliz com minha vida, por não me achar digna do que eu tinha. Além disso desde minha infância eu adquiri o pavor de envelhecer, eu queria morrer antes de completar 25 anos, porque para mim era a idade que eu estaria completamente acabada. Eu queria morrer preservada sem que minha aparência tivesse sido danificada.

Planejei bastante o meu suicídio. Salvei fotos de caixão e também anotei como seria meu enterro. Seria uma sala branca, com varias rosas brancas espalhadas no chão. Estaria com um vestido branco, longo e teria rosas brancas no caixão. Meu sapo de pelúcia o Zaque estaria no caixão comigo e ele usaria um vestido igual ao meu. Teria um grupo musical com violino, piano, flauta e estariam tocando musicas tristes, todos os convidados deveriam estar chorando ou com cara triste. Se alguém risse ou fizesse piadinha seria expulso do meu velório. Eu li muito sobre os benefícios da cremação, mas eu lembro de preferir ser enterrada,  o motivo era a preservação do meu corpo, eu me sentiria destruída sendo queimada. Ate hoje prefiro os vermes me comendo do que ser queimada. 

Eu não queria que doassem meus órgãos depois de morta, porque eu sentiria que meu corpo estaria sendo violado, a ideia de me cortarem e me abrirem me deixava magoada. Hoje eu mudei de ideia, gosto de pensar que meus órgãos podem dar continuidade a vida pra outras pessoas. 

Lembro que contei para minha vó como eu gostaria de ser enterrada, contei todos os detalhes pra certificar de que ela cuidaria do meu enterro, mas não contei da parte do suicídio. Eu nem tinha pensado em como minha família ficaria se eu morresse. Eu pensava que se a morte é natural, então eles saberiam lidar com isso. Mas minha avó ficou mal de ouvir aquilo, me senti culpada por ter feito ela se sentir mal daquele jeito, ela me fez perceber que eles ficariam depressivos se eu morresse. Passei a reconsiderar a ideia de não me matar, também pesquisei o que poderia acontecer caso existisse um pós morte. Eu procurei pela versão de várias religiões sobre pós morte, mas o que me encabulou foi a visão do espiritismo. No espiritismo, espíritos que se suicidaram não encontram paz e vagam eternamente na dor. Tudo que eu queria era acabar com minha vida e deixar minha existência. Se isso for verdade, eu não quero sofrer eternamente sem nunca ter paz. Ate pensei em pagar alguém pra me matar, mas eu fiquei com medo de violarem meu corpo. Quero meu corpo intacto.

Fui desistindo aos poucos da ideia de suicídio. Na verdade, eu ainda queria morrer jovem e bonita mas completei 27 anos, já passei da idade que considerava adequada pra morrer. Morrer agora eu já seria "velha" e não mais bonita. Além disso eu encontrei alguém que eu amo e quero envelhecer ao lado dele. Mudei meus planos, agora quero ser enterrada ao lado do corpo do meu homem. Quero que nossos caixões estejam lado a lado, quero uma decoração no nosso tumulo igual as que eu vi de casais no cemitério. Tinha uns bem bonitos que eram segurando as mãos.